A primeira segunda-feira do mês está sendo bastante importante para a presidenta reeleita, Dilma Rousseff, porque ela voltou ao trabalho depois de um merecido descanso na Bahia após enfrentar uma das mais difíceis campanhas presidenciais desde a redemocratização do país em 1989.
Dilma encontrou em cima da sua mesa, quando chegou, alguns resultados da articulação política que vem movimentando - e muito - os bastidores tanto do Palácio do Planalto como do Congresso Nacional. A primeira derrota do governo após o resultado das eleições é posta ali como uma forma de aviso e ela sabe que precisa agir rápido na escolha dos seus novos ministros para o novo governo.
Ao que tudo indica o slogan "governo novo, ideias novas" era, de fato, apenas uma estratégia de campanha para emplacar uma mudança significativa que na prática pode estar longe de acontecer. Participaram diretamente da reeleição de Dilma um número de oito partidos, além do próprio PT, sendo eles: PMDB, PR, PDT, PCdoB, PRB, PP, PSD e PROS.
O principal papel de todas essas siglas foi, especialmente no primeiro turno, garantir para a presidenta um maior tempo de televisão em relação aos seus outros dois principais adversários e, os petistas sabem, cada segundo foi valiosíssimo principalmente no momento mais delicado da campanha, que foi quando a candidata Marina Silva (PSB) aparecia numericamente a frente de Dilma, chegando a ter, em alguns momentos críticos, uma vantagem considerável até na simulação de segundo turno.
Drama no governo: 39 ministérios e pouco espaço para os aliados |
O PT sabe também que agora chegou a hora de todas essas siglas pedirem uma espécie de "reembolso político" por parte do Palácio do Planalto, tanto por causa dos palanques cedidos, como por causa do valioso tempo de televisão que a coligação dispôs ao longo de todo o primeiro turno. É uma conta difícil de se fazer e mais difícil ainda de ser fechada, mas a definição não deve demorar a sair.
Pastas importantes tem sido motivo de guerra em Brasília: o PMDB quer continuar com 5 cargos no primeiro escalão do governo e tenta, inclusive, derrubar outras siglas - como é o caso do PP, que hoje ocupa o ministério das cidades, e do PR, hoje detentor da pasta dos transportes - mas para ampliar o seu espaço dentro do novo governo com um ou mais ministérios é necessário que o vice-presidente Michel Temer dê garantias à companheira petista de que vai se empenhar - e conseguir - acalmar os ânimos dentro do Congresso Nacional.
Existem também pastas com situações específicas. Esse é o caso do ministério da cultura que hoje é ocupado por ninguém menos que Marta Suplicy, do PT. Marta não deve permanecer no cargo por um motivo muito simples: ela foi uma das idealizadoras e incentivadoras do movimento intitulado "volta, Lula" que surgiu e se intensificou quando Dilma enfrentou o momento mais tenso da campanha. Essa pasta deve ser dirigida diretamente ao PMDB.
O Palácio do Planalto sabe que na conjuntura atual terá que ampliar, pelo menos um pouco, o espaço do PMDB no governo já que viu as cadeiras do PT no Congresso Nacional - e em especial na Câmara dos Deputados - diminuírem drasticamente. No entanto, essa aliança entre os dois partidos tem se mostrado frágil e suscetível a divergências duríssimas por parte de uma ala do partido que chegou a participar diretamente da campanha tucana neste ano. Caberá, mais uma vez, ao vice-presidente Michel Temer acalmar os ânimos e pedir a unidade do partido. Essa unidade carece de muito diálogo, muita paciência e, principalmente, de boas ofertas.
E ao que tudo indica não é só com a enorme base aliada que o Planalto precisa se preocupar: o PTB, que apoiou Aécio Neves em 2014, viu suas cadeiras aumentarem na Câmara dos Deputados neste ano e avisou que está disposto a dialogar uma vaga na esplanada dos ministérios em troca de apoio. No ano que vem o PTB contará com vinte e cinco deputados. Isso significa que o Partido Trabalhista Brasileiro terá mais cadeiras que o PDT, PRB e PROS, todos aliados de primeira hora do governo Dilma. O interesse do PTB, no entanto, diz respeito ao ministério do turismo - que também é cobiçado, até certo ponto, por PSD e PMDB.
Do jeito que as coisas vão, mesmo com 39 ministérios está muito difícil para a presidenta Dilma alocar todos os aliados, e esse número pode, perfeitamente, ser arredondado para 40 já no próximo ano. A esperança dos eleitores está na proposta de reforma política que precisa ser votada no Congresso Nacional durante esses quatro anos para dizer que, de fato, esse será um governo novo com ideias novas e menos fisiologismo partidário.