segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Tabuleiro movimentado

A primeira segunda-feira do mês está sendo bastante importante para a presidenta reeleita, Dilma Rousseff, porque ela voltou ao trabalho depois de um merecido descanso na Bahia após enfrentar uma das mais difíceis campanhas presidenciais desde a redemocratização do país em 1989.
Dilma encontrou em cima da sua mesa, quando chegou, alguns resultados da articulação política que vem movimentando - e muito - os bastidores tanto do Palácio do Planalto como do Congresso Nacional. A primeira derrota do governo após o resultado das eleições é posta ali como uma forma de aviso e ela sabe que precisa agir rápido na escolha dos seus novos ministros para o novo governo.
Ao que tudo indica o slogan "governo novo, ideias novas" era, de fato, apenas uma estratégia de campanha para emplacar uma mudança significativa que na prática pode estar longe de acontecer. Participaram diretamente da reeleição de Dilma um número de oito partidos, além do próprio PT, sendo eles: PMDB, PR, PDT, PCdoB, PRB, PP, PSD e PROS. 
O principal papel de todas essas siglas foi, especialmente no primeiro turno, garantir para a presidenta um maior tempo de televisão em relação aos seus outros dois principais adversários e, os petistas sabem, cada segundo foi valiosíssimo principalmente no momento mais delicado da campanha, que foi quando a candidata Marina Silva (PSB) aparecia numericamente a frente de Dilma, chegando a ter, em alguns momentos críticos, uma vantagem considerável até na simulação de segundo turno.
Drama no governo: 39 ministérios e pouco espaço para os aliados
O PT sabe também que agora chegou a hora de todas essas siglas pedirem uma espécie de "reembolso  político" por parte do Palácio do Planalto, tanto por causa dos palanques cedidos, como por causa do valioso tempo de televisão que a coligação dispôs ao longo de todo o primeiro turno. É uma conta difícil de se fazer e mais difícil ainda de ser fechada, mas a definição não deve demorar a sair.
Pastas importantes tem sido motivo de guerra em Brasília: o PMDB quer continuar com 5 cargos no primeiro escalão do governo e tenta, inclusive, derrubar outras siglas - como é o caso do PP, que hoje ocupa o ministério das cidades, e do PR, hoje detentor da pasta dos transportes - mas para ampliar o seu espaço dentro do novo governo com um ou mais ministérios é necessário que o vice-presidente Michel Temer dê garantias à companheira petista de que vai se empenhar - e conseguir - acalmar os ânimos dentro do Congresso Nacional. 
Existem também pastas com situações específicas. Esse é o caso do ministério da cultura que hoje é ocupado por ninguém menos que Marta Suplicy, do PT. Marta não deve permanecer no cargo por um motivo muito simples: ela foi uma das idealizadoras e incentivadoras do movimento intitulado "volta, Lula" que surgiu e se intensificou quando Dilma enfrentou o momento mais tenso da campanha. Essa pasta deve ser dirigida diretamente ao PMDB.
O Palácio do Planalto sabe que na conjuntura atual terá que ampliar, pelo menos um pouco, o espaço do PMDB no governo já que viu as cadeiras do PT no Congresso Nacional - e em especial na Câmara dos Deputados - diminuírem drasticamente. No entanto, essa aliança entre os dois partidos tem se mostrado frágil e suscetível a divergências duríssimas por parte de uma ala do partido que chegou a participar diretamente da campanha tucana neste ano. Caberá, mais uma vez, ao vice-presidente Michel Temer acalmar os ânimos e pedir a unidade do partido. Essa unidade carece de muito diálogo, muita paciência e, principalmente, de boas ofertas.
E ao que tudo indica não é só com a enorme base aliada que o Planalto precisa se preocupar: o PTB, que apoiou Aécio Neves em 2014, viu suas cadeiras aumentarem na Câmara dos Deputados neste ano e avisou que está disposto a dialogar uma vaga na esplanada dos ministérios em troca de apoio. No ano que vem o PTB contará com vinte e cinco deputados. Isso significa que o Partido Trabalhista Brasileiro terá mais cadeiras que o PDT, PRB e PROS, todos aliados de primeira hora do governo Dilma. O interesse do PTB, no entanto, diz respeito ao ministério do turismo - que também é cobiçado, até certo ponto, por PSD e PMDB.
Do jeito que as coisas vão, mesmo com 39 ministérios está muito difícil para a presidenta Dilma alocar todos os aliados, e esse número pode, perfeitamente, ser arredondado para 40 já no próximo ano. A esperança dos eleitores está na proposta de reforma política que precisa ser votada no Congresso Nacional durante esses quatro anos para dizer que, de fato, esse será um governo novo com ideias novas e menos fisiologismo partidário.

O futuro (incerto) dos tucanos

Mal acaba uma eleição e o pessoal já pensa na próxima. É assim que a banda toca no Brasil e pela quarta vez consecutiva o PSDB não conseguiu retirar das mãos do seu arqui-inimigo partidário, o PT, o cargo da presidência da República. 
No entanto, dessa vez a disputa foi apertada e o partido dos tucanos saiu das eleições de 2014, sem sombra de dúvidas, mais forte do que entrou. Agora a discussão é a respeito do futuro: já que perderam mais essa, quem pode enfrentar o rojão em 2018?
Confira abaixo os principais nomes do partido para as eleições presidenciais que serão realizadas daqui quatro anos:

Aécio Neves - Senador/MG
Apesar de ter perdido as eleições deste ano, o senador mineiro Aécio Neves é, em primeiro lugar, candidato natural às eleições de 2018 por ter sido aquele que mais se aproximou da vitória desde 2002 e por isso mesmo não pode se considerar um derrotado. Além disso, Aécio quer se firmar nos próximos quatro anos como o principal nome da oposição no Congresso Nacional e já começou a articular sua posição de protagonista tanto com o senador paulista Aloysio Nunes, bem como com seu padrinho tucano, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ao enviar uma mensagem de vídeo nas redes sociais para os seus eleitores ele sinalizou, de fato, que vai tentar manter um diálogo mais próximo com o cidadão para não cair no temido ostracismo político. No entanto, Aécio sabe que existe gente dentro do partido e dentro do Senado que pode tornar essa tarefa bem mais difícil.

José Serra - Senador/SP
Aquele que um dia foi o primeiro nome na lista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou, caladinho e em grande estilo, ao Senado da República. Serra também figura na lista de vitoriosos tucanos de 2014 porque tomou para si e para o partido uma cadeira que era ocupada há 24 anos por um petista do calibre de ninguém menos que Eduardo Suplicy. Cabe comentar aqui que, antes da decisão da chapa, o ex-prefeito e ex-governador de São Paulo hesitou, e muito, em lançar seu nome para um cargo legislativo já que ele não ocupava esse posto há 11 anos quando saiu para assumir o ministério da saúde do governo FHC.
Serra é, assim como Aécio, um candidato natural para a disputa presidencial de 2018, mas tudo vai depender do seu desempenho dentro do Senado e ele até já foi cercado por senadores aliados de diversas partes do país para articular em favor de uma oposição unida e sistemática. Ele tem, basicamente, dois caminhos: optar por auxiliar o companheiro mineiro para torná-lo, de fato, a figura representativa do PSDB ou trilhar o seu próprio caminho. Isso só o tempo poderá dizer, mas a briga entre Serra e Aécio é tão antiga quanto a rivalidade entre Minas Gerais e São Paulo.

Geraldo Alckmin - Governador/SP
Seu nome é cogitado porque, em primeiro lugar, não seria mais marinheiro de primeira viagem. O governador de São Paulo enfrentou o ex-presidente Lula numa disputa acirrada no primeiro turno de 2006 e, embora o resultado no segundo turno tenha sido uma vitória larga do petista, Alckmin conseguiu se reerguer e se elegeu governador do maior e mais importante estado da nação em 2010, sendo reeleito agora em 2014. É a quarta vez que Geraldo Alckmin governará o estado de São Paulo e, embora tenha sofrido algumas baixas no meio do caminho, não tem muitas alternativas para as eleições 2018. No entanto, seu nome esbarra em alguns percalços como, por exemplo, ser considerado da "ala xiita" do PSDB e não ter tanto culhão para enfrentar no mesmo tom os ataques petistas - considerados de baixo nível pelos tucanos - coisa que Aécio Neves fez melhor que qualquer um. Se quiser ser candidato à presidência em 2018 Alckmin terá que trabalhar mais que todo mundo e conta com José Serra, seu amigo e parceiro, para essa difícil tarefa.

Marconi Perillo - Governador/GO
A trajetória política do goiano é bastante semelhante à do paulista acima citado: Marconi foi eleito governador de Goiás em 1998 quando tinha apenas 35 anos - na época foi o governador mais jovem do Brasil - acabando com a hegemonia do PMDB no estado que durou quase 40 anos. Em 2002 foi reeleito ainda em primeiro turno e, em 2006, elegeu-se senador por Goiás com votação recorde. Tendo cumprido menos da metade do seu mandato ele foi convocado pelo partido, mais uma vez, para ser candidato ao governo do estado. Sagrou-se vencedor em 2010 mesmo tendo contra si as máquinas estadual e federal e agora em 2014, apesar da agenda bastante negativa atribuída ao seu governo diante da Operação Monte Carlo, Marconi consegue reeleger-se com mais de 57% dos votos válidos e torna-se o maior nome da política goiana da história recente. 
Apesar de toda essa trajetória vitoriosa existe um problema: aliados consideram Marconi uma liderança regional bastante importante que poderia, perfeitamente, encampar uma parceria na chapa de algum de seus companheiros - seja ele mineiro ou paulista. Para aliados próximos, o governador de Goiás confidenciou que o projeto de sair candidato a presidência da República cabe ao partido e não a ele, mas não nega seu interesse em participar como protagonista do processo. É sabido que ele detém uma relação bastante próxima com todos os figurões tucanos incluindo, especialmente, Aécio Neves.

Beto Richa - Governador/PR
O governador reeleito do Paraná goza do mesmo prestígio mas, principalmente, das mesmas dificuldades do companheiro goiano. Beto Richa foi eleito prefeito de Curtiba em 2004 sendo, posteriormente, reeleito em 2008. Em 2010 abandonou a prefeitura e candidatou-se ao governo do estado onde sagrou-se vencedor e, agora em 2014, derrotou o ex-governador Roberto Requião e venceu as eleições já em primeiro turno. Também é considerado por tucanos uma liderança regional, embora seja visto com bons olhos por boa parte deles que, em todas as eleições presidenciais, contaram com o apoio dos paranaenses. O problema de Beto Richa é, antes de tudo, a pouca experiência no legislativo em âmbito nacional. Correligionários observam que o PSDB precisaria muito dele no Senado em 2018 - alguns arriscam dizer que é pra lá mesmo que ele vai. Outros atribuem ao governador o carimbo de um político jovem que pode, num futuro próximo, ser candidato a presidência - esse futuro próximo não inclui, especificamente, 2018. Também é importante ressaltar o seu bom relacionamento com o senador mineiro Aécio Neves que pode, e vai, mediar as discussões em torno do seu nome.

Os nomes, de fato, são bons e a grande maioria deles consiste de velhos conhecidos dos brasileiros. Todavia, a maneira como a oposição vai se portar nesses próximos quatro anos será determinante para uma análise mais concreta do cenário político brasileiro. Afinal, ainda é cedo para falar sequer sobre as chances de saída do PT do poder já que, dentro do Palácio do Planalto, é tido como certo do retorno do ex-presidente Lula às campanhas presidenciais já que ele mesmo chegou a admitir publicamente o seu desejo de disputar o pleito em 2018. 
Vamos esperar o desenrolar dos acontecimentos, mas o PSDB sabe que Lula é um adversário cem vezes mais difícil de ser abatido. A resposta virá, mesmo, a partir do dia 1º de janeiro.

Um Brasil de dois brasis

Desde a divulgação do resultado das urnas no último domingo há, de fato, um sentimento bastante peculiar na mente daqueles que venceram e também daqueles que, porventura, foram derrotados. 
Por parte dos vencedores há um clima de cautela e de receio porque reconhecem, antes de tudo, o resultado apertado. isso significa que alguma coisa está muito errada na conjuntura governista e que algo precisa ser feito de maneira rápida e enérgica para evitar reflexos negativos nesse complicado período de transição. O governo sabe que vai ter de matar vários leões diários nos próximos quatro anos tanto com o Congresso Nacional, como também com uma parcela considerável dos eleitores que demonstraram não estar plenamente satisfeitos com os atuais rumos do Brasil. 
Os derrotados, por sua vez, demonstram uma imaturidade política que nunca antes foi vista nesse país. Nem quando Lula venceu as eleições, lá em 2002, houve tamanho destempero por parte dos eleitores tucanos como o que assistimos neste ano: pedidos de separação do país, ataques ao eleitorado nordestino e pedidos de impeachment lotaram as timelines das principais redes sociais do Brasil durante toda essa semana. 
E quando achávamos que a situação havia sido superada e que os ânimos haviam sido acalmados houve mais uma surpresa: centenas - e depois milhares - de pessoas foram às ruas das principais capitais do Brasil empunhando faixas, bandeiras e as mais variadas formas de ilustração para pedir a saída da presidente eleita e até a intervenção militar como aquela ocorrida em 1964.
A pergunta que fica é muito simples: "qual a necessidade de tudo isso?" por que os eleitores derrotados não respeitam as urnas e assumem que não foram capazes de, apesar da diferença apertada, eleger o seu candidato? Parece que o respeito às instituições democráticas tem ficado em segundo plano por pura imaturidade política de uma parcela da população. 
Passeata hoje em SP pede a saída da presidenta
Esse movimento é um tanto preocupante já que ele se concentra, especialmente, na região centro-sul do país que deu ao candidato derrotado a maioria absoluta dos votos nesse segundo turno. É uma área rica, desenvolvida e que é responsável por grande parte das riquezas geradas pelo país, mas não apenas isso, essa insatisfação popular precisa ser resolvida de uma vez por todas, mas ao que tudo indica os governadores de alguns estados - especialmente os da oposição ao governo reeleito - parecem não se importar e acham que essa insatisfação vai passar quando o cidadão se alienar novamente.
É interessante notar que esses movimentos, ainda que pontuais e com adesão pequena, se refletiu dentro do principal partido de oposição. O PSDB pediu, de maneira errônea, uma auditoria especial para haver uma confirmação - ou não - do resultado das eleições da semana passada. O Tribunal Superior Eleitoral disse que não vai acatar esse pedido - e faz muito bem em fazê-lo.
Pelo sim e pelo não é preciso manter olhos e ouvidos atentos a qualquer deslize por parte da presidenta que reassumirá o cargo em janeiro do ano que vem. Apesar de ela contar com uma militância ativa - e altiva - e uma ampla maioria no Congresso Nacional, Dilma Rousseff vai precisar voltar a dialogar - ou iniciar um novo diálogo - com a sociedade comum porque, do jeito que as coisas vão, qualquer deslize pode se transformar numa avalanche e deixar ainda mais tensa a situação política e social do país.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Medidas adversárias na economia

O governo não esperou sequer completar uma semana do resultado das eleições para dar o mais claro sinal de que mentiu, e feio, durante toda a campanha principalmente no que dizia respeito a economia. Enquanto Dilma e o PT tentaram, com sucesso, desconstruir o discurso de Marina Silva (PSB) no primeiro turno tentando colar a imagem da ex-senadora com a de Neca Setúlbal, herdeira do Banco Itaú, muito se especulava na imprensa a respeito das medidas que a presidenta tomaria no campo econômico se, de fato, fosse reeleita.
Na época do primeiro turno a presidenta-candidata fez duras críticas a Marina Silva principalmente quando a socialista defendeu a independência do Banco Central. Para o PT aquele seria, somado a algumas coisas menores, o "calcanhar de Aquiles" da candidatura de Marina. A estratégia deu certo e, pouco a pouco, eles conseguiram minguar a adversária deixando-a com um amargo terceiro lugar nas apurações do último dia 05 de outubro.
Com Aécio Neves no páreo do segundo turno a questão econômica parecia ser razoavelmente mais fácil de ser tratada. Isso porque o tucano havia anunciado, de maneira prematura, aquele que poderia vir a ser o seu ministro da fazenda. Dilma e o PT, mais uma vez, encontraram a brecha que queriam para poder bombardear o senador mineiro com críticas, ataques e propagandas na TV infindáveis que diziam mais a respeito da vida e das opiniões de Armínio Fraga do que do próprio candidato de oposição. O discurso adotado pela campanha petista era um velho conhecido do cidadão brasileiro: a política neoliberal do PSDB versus a política de interferências do PT.
Durante essa guerra de posicionamentos o mercado financeiro fez pesquisas de intenção de voto, aguardou com ansiedade e apreensão os números de institutos respeitados e a bolsa de valores do Brasil virou uma verdadeira montanha russa com uma simbologia: se Aécio subia, a bolsa subia; se Dilma subia, a bolsa caía. 
Houve, na última segunda-feira, um cenário de pânico e incertezas bastante semelhante ao de outubro de 2002 quando, pela primeira vez, o PT havia sido eleito para governar o Brasil. O presidente eleito da época  que era Lula - tratou logo de anunciar o nome de Henrique Meirelles para poder acalmar os ânimos dos investidores e receber um país com um mercado ainda trêmulo, mas que não gritava. O primeiro ano de mandato do petista foi marcado pela manutenção dos pilares principais herdados por FHC com pontuais mudanças na política macroeconômica que, com o passar do tempo, foram tomando forma e conteúdo. Futuramente os investidores estavam bem mais amigáveis no que se referia à figura do presidente da República.
O governo, encurralado, vai adotar medidas que criticou na campanha
Foto: reprodução
Trocando em miúdos é curioso notar que Dilma, que tanto bateu em Marina e em Aécio no primeiro e no segundo turno das eleições, agora tenha que tomar as mesmas medidas que tanto criticou dos adversários. Algumas delas já começaram a sair da teoria, como o aumento da taxa básica de juros, o aumento nas alíquotas de energia elétrica de algumas regiões do país, o já anunciado aumento pontual da gasolina para esse mês e, talvez o mais importante de tudo, a [quase] garantia de que o próximo ministro da fazenda será oriundo de um grande banco privado. Tudo isso leva a crer que, no quesito economia, o novo governo Dilma já começa desconstruindo a si mesmo.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O Congresso bonachão

Especialistas em política tem analisado que o governo iria enfrentar, nesse restinho de legislatura, deputados com os mais variados ânimos: alguns felizes pela reeleição e, quem sabe, até pela eleição de amigos e parentes, alguns infelizes por terem perdido suas vagas e outros um tanto quanto rancorosos por terem perdido, além da vaga, o prestígio ou em seus estados, ou com a presidência.
Esse Congresso Nacional recheado de sentimentalismo não faz bem para a democracia brasileira e, esperto como é, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que após sair derrotado das urnas na corrida pelo governo do seu estado endossa a turma dos descontentes, prometeu aos colegas que iria colocar na pauta o reajuste dos salários de suas excelências.
A proposta de aumento dos vencimentos dos deputados é bastante simples: já havia na mesa diretora a proposta de equiparar os vencimentos dos legisladores com aqueles recebidos pelos ministros do Supremo Tribunal Federal.
Hoje, para se ter uma ideia, um ministro do STF recebe cerca de R$ 29.400,00, enquanto um deputado federal recebe algo em torno de R$ 26.700,00. Ou seja: um aumento de quase três mil reais deve, por ora, acalmar os ânimos da casa que já se mostrou, na primeira votação, extremamente hostil. É o tipo de matéria que não precisa sequer de cobertura jornalística em cima porque, o cidadão achando bom ou não, é a matéria mais fácil de ser aprovada nesse que pode aparentar o período de transição mais difícil dos últimos dez anos.